Coletivo de grupos e criadores independentes das artes cênicas em Recife, Pernambuco. Nasceu da necessidade de diálogo entre os artistas sobre as linguagens cênicas, buscando a manutenção dos trabalhos de pesquisa e investigação teatral.

Em encontros semanais são realizadas vivências práticas e teóricas sobre a reflexão e o questionamento do fazer teatral contemporâneo em seus aspectos poéticos, estéticos e políticos.

Traga sua experiência também!

Encontros semanais

TODAS AS TERÇAS, ÀS 19H!
No Espaço Compassos
Rua da Moeda, 93, 1º andar, Bairro do Recife. (Entrada pela Rua Mariz de Barros – casa rosa com janelas amarelas)

Como participar:

1º passo: Procure um dos membros das Comissões através do email: colaborativopermanencia@gmail.com;

2º passo: Apareça para conhecer as atividades do coletivo, nos encontros semanais das terças-feiras.

12 de mai. de 2009

A voz em Ação na Cena (Parte 1) - Preceitos (Texto Atualizado)

Carlos Ferrera*

Estar imerso dentro das práticas e reflexões acerca da voz e de seu uso poético nas artes, é deparar-se com um vasto e sensível campo subjetivo. Costumo dizer que a voz nasce nos espaços entre o corpo e a mente, ocupa o mundo, materializando idéias e paixões.

Tanto artisticamente, como na vida cotidiana, é possível identificar três instâncias expressivas da voz humana: Vocalidade, Verbalidade e Musicalidade. Chama-se Vocalidade os fluxos sonoros que compreendem os sons relacionados aos impulsos e instintos (gemidos de dor, gritos de medo, suspiros de alívios, grunidos, entre outros). A Verbalidade diz respeito ao uso das palavras pertencentes a determinado código linguístico. E a Musicalidade é uma associação de recursos melódicos, harmônicos e rítmicos à voz, podendo abarcar o universo das Vocalidades e Verbalidades.

Lançando um olhar analítico sobre as recentes abordagens críticas de treinamentos vocais para as artes cênicas, constata-se um consenso: A produção da voz deve estar intimamente ligada a uma proposta corporal, abrangendo as três instâncias expressivas já citadas (Vocalidade, Verbalidade e Musicalidade), integrando a geografia da cena (configurações da encenação), localizando e mapeando as dinâmicas respiratórias, intensidades, timbres, tonalidades, deslocamentos, zonas de solidão e solilóquio, convívios e contracenas, instaurando no palco o habitat natural do atuante.

O treinamento vocal eficiente leva em consideração a estruturação orgânica do aparelho fonador e respiratório, correlacionando-os com o restante do corpo, construindo assim a consciência Corpo-Vocal.

O artista do palco deve conhecer e reconhecer seu material físico e mental (corpo e mente) direcionando-se para a construção cênica através de uma ação prévia, que chama-se "pré-para-a-ação" (preparação). Esse momento assume a característica de uma etapa formativa, onde estruturam-se os condicionamentos, os exercícios práticos e as reflexões sobre os usos e as possibilidades da voz cênica.

Orientar, em primeiro lugar, para o "manuseio" correto da respiração faz-se extremamente necessário. O total controle da respiração constitui elemento primordial para a excelência do trabalho cênico. A real noção de como manipular o ar é uma premissa para a obtenção de resultados artísticos mais consitentes. O bom artista cênico é aquele que sabe reger o fluxo de ar de dentro para fora, de fora para dentro. É aquele que rege o sopro e as palavras. É sabido que atores, performers, bailarinos, cantores e circenses, respiram muito a cima do registro cotidiano. E isso quer dizer tudo quando justifica-se a importância de uma total gerência dos mecanismos relacionados ao processo respiratório.

Na familiarização com as quatro partes constituintes da respiração, inspiração, retenção positiva (pulmões cheios de ar), expiração e retenção negativa (pulmões esvaziados), obtém-se a capacidade de elaboração de significados poéticos e uma enorme quantidade de recursos técnicos e estilísticos, no tocante ao trato com as palavras, com produção de texturas sonoras e de silêncios, e com o próprio corpo em seus deslocamentos e imobilidades.

Trabalhar diretamente sobre a respiração requer uma entrega corporal. "Respirar bem na cena" compreende a atitude consciente de abrir os espaços internos do corpo, inspirando o ar, retendo-o e expirando-o; cabendo durante fases de treinamento técnico ou como recurso estilístico, durante a representação ou performance, a retenção dos pulmões esvaziados depois da etapa expiratória (Retenção negativa).

Quando inspiramos, expandimos os pulmões, que inflam, e o músculo diafragma desce. Com esse abaixamento do diafragma, outros orgão sofrem um deslocamento. E quando expiramos os pulmões secam e o diafragma sobe, reposicionando a estrutura deslocada na inspiração. É claro que muitos outros fenômenos acontecem numa respiração completa: o sangue oxigenado corre pelo corpo propiciando a troca gasosa para as células, impulsos elétricos são estimulados, em nível cerebral, os tecidos renovam-se e expelem toxinas, etc. A respiração é um processo que integra todo o organismo em prol da manutenção vital.

Ao lidarmos artisticamente com a respiração, estamos manipulando toda uma rede microscópica de alterações internas. Respirando em cena, podemos retardar a chegada do ar nos pulmões, e com isso alterar o PH do sangue; podemos estimular as glândulas lacrimais, provocando o choro; acionar centros nervosos, responsáveis pelo riso, pela tristeza, pela libido, pela raiva, entre outros.

Pra produzir sons, palavras, gestos e movimentos em arte, respira-se com uma outra dinâmica, diversa da cotidiana. Na vida do "dia-a-dia", tendemos para o relaxamento. No palco, diferentemente, as tensões, as zonas de conflitos, evidenciam-se pelo truque, pelo efeito, pelo risco, pelo dramático, pelo lírico e pelo épico.
E existindo uma comunhão, um padrão respiratório instaurado no ato da representação, o público e o(s) artista(s) tornam-se cúmplices. Essa cumplicidade dá-se, em grande parte, por uma frequência aeróbica vinda do espaço cênico, que leva o público para o processo cinestésisco. Quando o público não compartilha da mesma dinâmica respiratória com a cena, deflagra-se a dispersão, a desatenção. O público tem de estar dentro do jogo.
* Carlos Ferrera é pesquisador, ator, cantor, compositor, dramaturgo, diretor/encenador, preparador corpo-vocal e membro fundador da Cia. Santa-Fogo (Recife-Pernambuco), onde assumi a direção artística, desenvolvendo a linguagem das máscaras expressivas, a mímica corporal dramática, o fluxo criativo em improviso, entre outras vertentes como o vídeo, literatura, música, dança, as artes plásticas e visuais.

Um comentário:

Maurileni MOreira disse...

Nossa! Abalaram no registro, gostei muito de passar por aqui. Virei mais vezes. Sou estudante do curso LIcenciatura em Teatro aqui em Fortaleza, e estou a descobertas de vários links a respeito...

Obrigada pela força,

beijos.