Coletivo de grupos e criadores independentes das artes cênicas em Recife, Pernambuco. Nasceu da necessidade de diálogo entre os artistas sobre as linguagens cênicas, buscando a manutenção dos trabalhos de pesquisa e investigação teatral.

Em encontros semanais são realizadas vivências práticas e teóricas sobre a reflexão e o questionamento do fazer teatral contemporâneo em seus aspectos poéticos, estéticos e políticos.

Traga sua experiência também!

Encontros semanais

TODAS AS TERÇAS, ÀS 19H!
No Espaço Compassos
Rua da Moeda, 93, 1º andar, Bairro do Recife. (Entrada pela Rua Mariz de Barros – casa rosa com janelas amarelas)

Como participar:

1º passo: Procure um dos membros das Comissões através do email: colaborativopermanencia@gmail.com;

2º passo: Apareça para conhecer as atividades do coletivo, nos encontros semanais das terças-feiras.

8 de mar. de 2009

imagem-corpo expressão: os surdos!

Olá colaborados e visitantes!
Tô muito feliz em poder contribuir com a construção deste espaço.

Vou aproveitar este primeiro post para divulgar algumas iniciativas na área de arte-educação para surdos desenvolvidas por mim e por outros companheiros. Para alguns pode soar um pouco estranho (não estranho, mas inusitado talvez) este enfoque na comunidade surda, mas se pararmos um pouco pra pensar o surdo representa uma alegoria interessante principalmente para a reflexão da estética ou da própria arte na contemporaneidade.

De cara, a primeira analogia possível está na questão da imagem: a dimensão que a imagem ocupa em nossa realidade não se equipara a nenhum outro momento histórico; não à toa, vivemos a era da
civilização da imagem , como bem define Jacques Aumont. Imaginemos então uma comunidade que se comunica e se percebe no mundo prioritariamente através da imagem.
Da imagem naturalmente chegamos ao corpo: os surdos são sujeitos que utilizam uma linguagem viso-espacial, escrita através de seus gestos corporais. Essa "corporeidade silenciosa" (coloco entre aspas porque de silenciosos os surdos não tem nada) estabelece, sob meu ponto de vista, uma relação direta com a
ação física em detrimento do texto.
Brecht, Delacroux,
Artaud e Bausch são algumas das referências que redimensionam a questão do corpo do ator e sua relação com texto dramático. As cearas do Teatro Físico e da Dança-Teatro aprofundam ainda mais esta questão, conduzindo-nos a outros caminhos possíveis para a presença cênica contraposta a compreensão clássica do verbo como motor da ação.
Desde 2006 venho elaborando junto com a equipe do Centro Suvag de Pernambuco, estratégias metodológicas para uma arte-educação
voltada para o surdo. Dentre os projetos em desenvolvimento, queria compartilhar com vocês o BIS, um banco de imagens onde pode ser encontrado o registro de algumas atividades da instituição. Este espaço é importante porque, além divulgar as ações, preenche uma lacuna recorrente na questão da memória do surdo.
Em breve a Cia Mãos em Cena, grupo de teatro formado por alunos e ex-alunos do Suvag, entrará em cartaz com as peças A Pedra do Reino e Andar...sem parar...de transformar, com o apoio do Programa BNB de Cultura e do Funcultura. Mais pra frente volto a divulgar.
Outra ação muito legal na área é o FotoLibras, um projeto de fotografia participativa com surdos desenvolvido por Edurado Queiroga e Mateus Sá. A partir de hoje, 8 de março, os fotografos do grupo participam da exposição coletiva Pare, Olhe, Escute
que ocorrerá nas dependências de estações de metrô de Pernambuco. No Terminal Integrado de Passageiros (TIP), serão expostas dez fotos do FotoLibras, em painéis de 2mx1,3m. Além do projeto FotoLibras, outros artistas participam da exposição: Aslan Cabral e Fábio Rafael (Estação Camaragibe), Grupo Autom.ato e Mozart Santos (Estação Central - Recife), Bruna Rafaela (Terminal Integrado de Passageiros) e Mauricío Castro (Estação Jaboatão).
Abraços,
Zig

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá, Caríssimo Marco Bonachela (o nosso ZIG),

Como é importante estar sensível às particuliaridades da comunicação dos que percebem o mundo e vivem nele das formas mais diversas.
Somos ainda muito presos aos estímulos visuais e passamos batidos quando somos impelidos a sentir as coisas por outros sentidos e sensações.
Existem dramaturgos que escrevem em libras? Escolas para a profissionalização de atores, que incluem os surdos?

Abraço

Carlos Ferrera
Cia. Santa-Fogo

Marco Bonachela disse...

Oi Carlos,
Desculpas pela demora no retorno desse comentário.
Acredito que seja não só importante pensar as condições particulares de vários grupos sociais, mas perceber nelas o potencial de enriquecimento do(s) nosso(s) pontos de vista: "sentir as coisas por outros sentidos e sensações"
A idéia da escrita não é algo muito comum entre os surdos. Talvez por isso, existam tão poucos registros sobre a história, costumes e pontos de vista do surdo. Gosto da analogia com as tradições orais quando penso nos surdos (no caso seria uma tradição visual, com caracteristicas semelhantes de vulnerabilidade)
Por certo, a opção natural do surdo de não utilizar cotidianamente a palavra, o português, o francês, o inglês, não retira a possibilidade de articulações dramatúrgicas no surdo. Na realidade este é um exercicio cotiano entre eles, principalmente na comunicação com pessoas que não dominam LIBRAS. Estrategias de dramatização, o uso da pantomima ou da mímica são recursos utilizados com frequência por essa galerinha, tentando se fazer entender.
Nunca ouvi falar claramente sobre escolas de profissionalização que incluam surdos. Existem grupos de teatro compostos por surdo em vários lugares do Mundo, e até uma universidade só de surdos, a Gallaudet, nos EUA.
Bj,
Zig